Um médico experiente que atende os casos de diabetes quer sair de férias para Acapulco, mas tem um problema: quem poderá atender seus pacientes enquanto estiver fora? A prescrição correta da dosagem de insulina, ele sabe muito bem, não é algo trivial e a decisão depende da análise de uma conjunção de fatores. Para essa tarefa, ele escolhe um jovem médico, que não se sente seguro para isso. A historinha contada introduz o game InsuOnline, que foi o ganhador da etapa nacional da Imagine Cup, competição realizada pela Microsoft que premia projetos de tecnologia desenvolvidos por estudantes. A equipe Oniria Games for Health Brazil, da Faculdade Pequeno Príncipe, em Londrina, vai representar o país em julho na final mundial, na Rússia, com seu projeto que visa capacitar médicos de unidades básicas de saúde e estudantes a para o tratamento da diabetes.
No game, o jogador encarna a figura do médico principiante. Ele pode escolher entre 16 casos com níveis diferentes de dificuldade. No consultório, o jogador vai conduzindo os diálogos a partir das queixas e do prontuário do paciente, que contém histórico familiar e da doença, o tipo e a dosagem da medicação que está tomando e demais informações clínicas. Ao clicar na opção de analisar os exames, ele receberá informações a respeito dos níveis de glicemia, creatinina e outros. Um quiz o faz responder perguntas sobre o caso e o leva a diagnosticar o presente estado do paciente. Entre uma pergunta e outra, o médico experiente, aquele que foi para Acapulco, dá dicas para o jovem médico. Em seguida, o jogador deve prescrever a dosagem mais adequada de insulina. “A condição de vitória é encontrar a melhor dosagem da insulina. No mais difícil, o médico que conseguir chegar ao ajuste correto, realmente sabe fazer isso”, afirma Leandro Diehl, integrante da equipe vencedora. (Veja vídeo demonstração, com legendas em inglês mais abaixo).
Diehl é endocrinologista e, ao dar aulas para a graduação, percebeu a dificuldade de os alunos acertarem o ajuste correto das dosagens de diabetes. Resolveu, então, elaborar um game que capacitasse os estudantes e médicos da atenção básica para essa função e, na sua tese de doutorado, está medindo a eficácia de usar jogos na formação médica. “Isso ainda é muito novo no Brasil”, diz o médico, que buscou inspiração em simulados norte-americanos voltados ao tratamento da diabetes. “Nos nossos testes, a aceitação tem sido grande”, afirma.
Seu parceiro Rodrigo de Souza entrou com a parte da tecnologia. Ele é diretor de arte da Oníria Games, empresa especializada em desenvolver games, boa parte voltada à educação. “Esse projeto foi feito e refeito várias vezes e estamos há 2 anos e meio trabalhando nele”, afirma. Daqui até a apresentação final, na Rússia, a equipe ainda tem de dar um acabamento ao produto, que ainda não está disponível para compra. “Vemos a venda para governos e licenciamento para universidades como possibilidades de modelo de negócio”, afirmou Souza. “Os médicos gastam muito dinheiro para se manter atualizados. Vão a congressos, compram livros. O game pode ser uma dessas ferramentas”, completou Diehl.
Imagine Cup
A equipe de Londrina foi a vencedora entre três finalistas. As outras duas foram a Life Up, que tem integrantes da Federal da Paraíba e da de Pernambuco, e a Moscow, Perdeu, da Unesp de Bauru. A Life Up desenvolveu um game para ajudar na socialização de crianças diagnosticadas com autismo. A equipe paulista fez um jogo de entretenimento ocorrido no espaço que aplica conceitos de gravidade e aceleração gravitacional em sua narrativa.
De acordo com Cristian Fialho, gerente de projetos acadêmicos da Microsoft, a maior parte dos projetos acaba envolvendo educação. Na final mundial, afirma ele, há a preocupação de que os projetos possam contribuir para atingir as metas do milênio, estabelecida pela ONU em 2000. “Os projetos têm um apelo forte na área de educação e na de saúde”, afirma. “A Imagine Cup estimula jovens estudantes brasileiros a desenvolverem tecnologias inovadoras que possam ter impacto na sociedade e na vida de cada um desses nossos novos empreendedores”, diz Michel Levy, presidente da Microsoft Brasil.
O Brasil tem tradição de ir bem nas finais mundiais da Imagine Cup. Só no ano passado, por exemplo, uma dupla de irmãos paulistanos, os Sonnino, levou o primeiro lugar em duas categorias. Uma equipe brasileira de Curitiba ficou com a segunda colocação em uma terceira categoria. Em outros anos, representantes brasileiros também voltaram para casa com os troféus e os cheques assinados pela Microsoft para ajudar a desenvolver os projetos.